21 de julho de 2009

Sentidos


Todos os sentidos são importantes. A sensação de não conseguir eleger o mais importante é tão desconcertante quanto a indecisão com que me deparo, se pensar em abdicar de um deles. Olfacto, tacto, audição, visão e paladar estão intimamente relacionados entre si, e fazem mais sentido assim, como um todo indissociável.

O olfato é um dos sentidos mais interessante do meu corpo. Graças a ele sou capaz de fazer uma espécie de arquivo associativo. Essa espécie de registo é capaz de me levar às mais variadas lembranças. Aquele bálsamo da sombra das figueiras ao chegar à Prainha, o cheirinho único dos meus filhos à nascença, a fragância do ar e da terra nas primeiras chuvas, o odor que as linhas férreas exalam após a passagem do combóio, o aroma de uma comida ou algum perfume que ficou gravado na minha mente, são verdadeiras tatuagens no meu espírito. Tratam-se de verdadeiras marcas e, sempre que as sinto, fazem-me mergulhar num mar de lembranças, trazendo recordações de pessoas ou de momentos, sejam eles bons ou maus.

Depois há o nosso próprio perfume, os odores corporais de cada um, um cheiro que só a nós pertence, distinto e único, que não se repete em mais ninguém, e que vai muito além de uma sociedade "desodorizada". Recorremos, no entanto, a produtos de higiene que transformem os nossos (maus) cheiros em sensações agradáveis. O ritual matinal de me perfumar após o banho, na medida proporção do meu gosto - nem em falta, nem em demasia - assume uma magia inexplicável.

Traduzir para imagens uma série de sensações olfactivas (e não só), e conseguir manter toda a sensualidade resultante desse segredo lendário -perfume- num pequeno filme publicitário, só poderia ser feito por alguém que conhece bem a sétima arte.




Coração Feliz

Acredito ter encontrado as essências que se colam perfeitamente à minha pele, que combinam com a minha personalidade, elevando o meu aroma natural. Celebro essa química como se de uma verdadeira cerimónia se tratasse. É a liturgia do amor-próprio olfactivo, ou não fosse
o Happy Heart o meu perfume perfeito.
Mas é muito uma questão de pele. É aqui que entra o tacto.

Muitas vezes enaltecido por uma l'
eau de parfum, um ser perfumado toca, apesar de tudo, todas as coisas com os seus dedos de energia. A luz que emanam gera reacções primitivas e não racionais de atracção ou repulsa. É uma questão de pele. Ao seu lado, a gente percebe que a sensualidade é um perfume que vem de dentro e que a atracção que nos move não passa só pelo corpo, corre nas veias.

Acredito que há almas perfumadas. O meu filho é a prova disso. Cheira a sol de manhã, a flores quando ri e a céu estrelado quando, à noite, se vem deitar comigo. Ao seu lado, saboreio a delícia do toque suave que sopra no meu coração a sua presença. Os sentimentos que aquelas mãozinhas tranportam, no tactear da cama em busca do meu corpo, também têm cheiro. Esse toque encerra em si um silêncio, apenas quebrado quando encontra o meu peito.

Ama-se pelo cheiro, pelo toque da pele, pelo tom de voz, pelo olhar inquietante, pelo gosto do beijo, pela paz que o outro nos dá, ou pelo tormento que nos provoca. Amo justamente pelo que o amor tem de indefinível.

10 de julho de 2009

sinto, logo... Vivo!

Acordei com medo. E se eu tiver chegado a um ponto em que perdi o sentido da vida? Assustou-me ainda mais pensar que, ainda que um propósito final existisse, ou uma acérrima convicção religiosa o justificasse, isso não me satisfaria plenamente.

O esvaziar de objectivos claros e concretos, faz-me sentir meio perdida. Estagnada face aos caminhos, desmotivada quanto a rumos futuros. Cresci estabelecendo metas, contornando obstáculos e imprevistos que, quero acreditar, pudessem levar-me à felicidade. E quando dei conta, sentia uma espécie de vazio, de acomodação ao que conseguira alcançar, de cansaço, de ingratidão. Como se tudo dependesse do meu brilhante desempenho. Será nisto que a psicoterapia -de que a Dra. Margarida falava- poderia fazer algo por mim? O que quereria ela dizer com "há aí muita pedra para partir"?...

Naquele dia, não percebi o alcance daquelas duras palavras. Dentro de mim, sentia porém a vida a pulsar noutro tempo, noutro lugar. Fiquei com a sensação de caminhar sem bússola. Era a Sissi que queria ser médica, artista, pintora, cantora... Visualizei tudo aquilo que queria ter sido e não fui. Apeteceu-me permanecer em
off durante tempo indeterminado. Precisei de me reprogramar. Há coisas que preciso de desculpar em mim e aceitar ser desculpada.

Dei por mim a pensar: o sentido da vida é redescobrir o prazer de viver. Nunca porei termo ao eterno desassossego da alma. Se é isso que me faz feliz. Mudar de vida porquê? E no entanto, adormeço com tanto medo.