9 de outubro de 2009

Zela, por mim



Houve um tempo em que me acordavas de noite, com medo do escuro, para que eu fosse à tua frente e esperasse por ti na casa de banho. E eu lá ía, orgulhosamente à frente, com o urso preto elevado às batidas do meu coração, como se fosse muito valente...

Bebíamos Pisang Ambon porque nos sabia a xarope e a cor era linda, ríamos até à exaustão ao escorregar com o rabo sob as almofadas nas escadas de mármore enceradas e fingíamos estar a dormir quando a mãe aparecia de repente. Coleccionávamos borrachas com cheirinhos deliciosos, assaltámos a arca dos gelados, e fomos cúmplices na partilha de segredos enterrados. Dormíamos juntas, tomávamos banho em conjunto e tínhamos um sonho em comum... ou vários. Falávamos de tudo e continuamos a falar.

Mordi-te um dedo, quase te furava um tímpano e dei-te um nome que ninguém sabe pronunciar como deve ser. Se calhar, tens sido melhor para mim do que eu para ti. Tens estado sempre presente nos momentos mais marcantes da minha vida. Talvez eu não cuide tão bem de ti.

Desde que vi o Rachel Getting Married que sinto o coração a transbordar de vontade de partilhar contigo o mesmo sentimento de "amor incondicional" entre irmãs que o filme enaltece. Sinto vontade de te dizer: És minha irmã e amo-te. Por isso tenho guardado esta música, como se fosse preciso um momento especial para dizer que te adoro.

E se eu precisar do teu enorme urso amarelo, para que não tenha medo de avançar, no escuro... Podes ir à minha frente?