10 de agosto de 2011

A Bruxa e o Sapo


Sonho com o príncipe e vislumbro o sapo.
E então penso que também ele, ao espreitar-me, vislumbra a bruxa, que não o mima, e que também ele me vigia mórbida e atentamente, e me vê com um olhar que não conhece, parecendo que nem uma gota de amor corre no meu sangue de feiticeira, que em tempos o encantou disfarçada de princesa.
No terror de nos perdermos e porque todo o sapo deseja ser príncipe e toda a bruxa princesa, procuramos sofregamente nas profundezas dos nossos corações, a fórmula química que sirva de antídoto à nossa condição.
E então, mesmo disforme, maligno, sem alma no olhar, volta a ser perfeito, amoroso, atraente e inspirador, transformando-se novamente no meu príncipe encantado. Enquanto eu, feia, madrasta e azeda, me converto na sua idealizada princesa doce e encantadora para sempre.
Assim acontece muitas noites em que os nossos sonhos são eternos até de manhã, quando ao acordar e ainda estremunhados, procuramos o contacto viscoso do batráquio com o frio medonho da bruxa.