17 de junho de 2009

À pesca de um Santo

A lembrança mais viva que guarda dos festejos dos Santos Populares no Algarve, é o tom de voz com que a mãe criticava o facto de sair de casa, de banho tomado, toda perfumada, com roupa lavada e a farpela criteriosamente escolhida para ir "saltar à fogueira". Naquele tempo, não tinham o mesmo entendimento acerca daquele acontecimento.

Para ela, a importância daquele evento só tinha comparação com a actuação do Rancho Foclórico do Calvário na Bemposta, e fora superada, uma única vez, pelo desempenho de um circo familiar cuja actuação a deixara a sonhar durante largos meses... No entanto, não fazia ideia do que tratava aquela época festiva... teria uns 7 anos, e não quis saber, não questionou nem tentou perceber o significado da tradição popular. O Algarve nem Santo tinha! Em 2010 quer ir à Avenida da Liberdade ver o desfile das marchas de Lisboa, e recuperar tudo o que nos anos já passados, por uma razão qualquer, perdeu.

Mas recorda a sensação da onda de calor crescente, à medida que se aproximava do momento do salto, o cheiro do alecrim queimado, e ainda retém rostos desfocados mas sorridentes, iluminados em redor do fogo, a cantar. Depois voltava a casa, silenciando os grilos com a sua passagem. Tinha a pele suada, os pés sujos de terra e marcados pelas tiras plásticas das Colibri (que ainda assim emanavam um delicioso cheirinho a baunilha). O odor a fumo entranhado no cabelo invadia-lhe a almofada e, com o refrão da música "S. João, S. João, S. João..." que ecoava em si, adormecia.





Outra Gaivota

Reparo agora que nunca procurei entender a dimensão dessas festas. Já em Lisboa, nunca as celebrei, certamente mais rendida ao snobismo do que propriamente por coincidir com a época de exames universitários mais exigente.

Hoje já não cedo à tentação do preconceito de "não gostar de certas coisas". Sardinhas, caracóis, fado, arraiais e bailaricos? Sempre gostei!

Já com a música portuguesa, as coisas não são tão lineares... Gosto de ouvir de tudo um pouco, mas reconheço que estamos numa fase muito fértil, surgem bandas inovadoras, velhos êxitos são revestidos de uma roupagem diferente, muitas vezes surpreendente. Nem de propósito, hoje, quando ouvi a nova versão da "Gaivota" da Amália, senti-me renascer.

No próximo ano, deixarei de me sentir nostálgica face ao que não vivi. Como qualquer alfacinha, partirei numa algazarra colorida, em busca do meu santo. Até lá, vou ouvindo o pipilar desta gaivota.

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