20 de abril de 2009

Amor numa gaiola

Há pássaros que querem levantar voo, e não conseguem. Não estão presos, o céu está livre, nada os impede de voar. Mas ficam parados, como se não tivessem asas, ou a terra os hipnotizasse. Não precisam de gaiola; podemos abrir portas e janelas: o seu lugar é onde estão, e hão-de ficar.

Mas os dedos que tocam o seu corpo frágil sentem uma hesitação; e os olhos que os fixam adivinham o desejo de se libertarem. Porém, estão imóveis. São os pássaros que não conhecem Outono nem Inverno, os que não sabem para que lado fica o horizonte, os que nunca roçaram o dorso das nuvens.

Tenho estes pássaros na cabeça; e mesmo quando lhes abro o campo do poema, não saem de dentro de mim, ensinando-me o seu canto. Hoje, como naquele tempo, continuo a não entender. E mais prisioneira me torno. Como pode o amor trair o amor? Engaiolei-me nessas grades invisíveis, numa espécie de sintonia de equilíbrio, desiquilibrado.

Ser livre? Em sonhos, talvez...

1 comentário:

  1. O amor é sempre uma gaiola, mas eu não consigo amar quando perco a capacidade de saltar a portinhola e voar...
    Ao considerar a hipótese de não o poder fazer, sofro de falta de ar (mesmo)e a palavra que me ocorre é "não"... e vejo-me de fora, a retroceder nos meus próprios passos, como se com a condenação lutasse.
    Ser Livre? Tenho de me sentir sempre livre, mesmo que os meus voos sejam apenas de exercício e saiba que logo mais volto a casa.

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