2 de setembro de 2011

The WAY


To the right where nothing's left...
to the left where nothing's right...

There's only one thing for certain.
What we regret more is the chances we never took.
I'm living on my way.
It's not right or wrong. It's the WAY.




10 de agosto de 2011

A Bruxa e o Sapo


Sonho com o príncipe e vislumbro o sapo.
E então penso que também ele, ao espreitar-me, vislumbra a bruxa, que não o mima, e que também ele me vigia mórbida e atentamente, e me vê com um olhar que não conhece, parecendo que nem uma gota de amor corre no meu sangue de feiticeira, que em tempos o encantou disfarçada de princesa.
No terror de nos perdermos e porque todo o sapo deseja ser príncipe e toda a bruxa princesa, procuramos sofregamente nas profundezas dos nossos corações, a fórmula química que sirva de antídoto à nossa condição.
E então, mesmo disforme, maligno, sem alma no olhar, volta a ser perfeito, amoroso, atraente e inspirador, transformando-se novamente no meu príncipe encantado. Enquanto eu, feia, madrasta e azeda, me converto na sua idealizada princesa doce e encantadora para sempre.
Assim acontece muitas noites em que os nossos sonhos são eternos até de manhã, quando ao acordar e ainda estremunhados, procuramos o contacto viscoso do batráquio com o frio medonho da bruxa.


27 de julho de 2011

Spider's Web


Cause the line between,
Wrong and right,
Is the width of a thread,
From a spider's web...



11 de julho de 2011

Cântico Negro

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

José Régio

Quase eu

8 de janeiro de 2011

A Segurança Destas Paralelas


www.olhares.com (Galeria de José De Almeida & Maria Flores)


A segurança destas paralelas
— a beira da varanda e o horizonte;
assim me pacifico, e é por elas
que subo lentamente cada monte.

O tempo arrefecido, e só soprado
por uma brisa tarda que do mar
torna este minuto leve aconchegado,
traz mansas as certezas de se estar.

E vêm novos nomes: são as fadas,
gigantes e anões, que são assim
alegres de o serem — parcos nadas

que enchendo de silêncios este sim
dele fazem brinquedos, madrugadas...
Agora eu estou em ti e tu em mim.

Pedro Tamen, in “Tábua das Matérias”

14 de junho de 2010




A Naifa nasceu em 2004 através da união de esforços de João Aguardela (conhecido por ser fundador e vocalista dos Sitiados, infelizmente desaparecido entre nós no ano passado) e Luis Varatojo, músicos com raízes na pop portuguesa dos anos 80 e 90, aos quais se juntou uma nova voz- Maria Antónia Mendes.


Em cinco anos de existência, A Naifa editou três discos e criou um repertório totalmente original, onde as canções, escritas a partir de textos de novos poetas portugueses, e compostas com base em referências da música de raiz portuguesa, lhe conferem uma forte identidade estética e uma presença ímpar no meio musical nacional.


Depois de um ano de luto, A Naifa voltou à luta com um livro/dvd biográfico que retrata o seu universo. A vontade de continuar a fazer música sobrepôs-se à dor da perda e uma nova Naifa nasceu no espectáculo de homenagem a João Aguardela em Novembro último no CCB. Luis Varatojo e Maria Antónia Mendes têm agora a companhia de Sandra Baptista no baixo e Samuel Palitos na bateria, para lançar de novo à terra a semente que já deu frutos.

A digressão nacional terminou a 5 de Junho com um concerto na Festa do Fado no Castelo de São Jorge, e onde A Naifa convidou a irmã da Amália - Celeste Rodrigues.


Gosto das coisas a que faltam um sentido óbvio. Como a pop e o fado a se cruzarem numa cumplicidade improvável. Como um reencontro de amigas tantos anos passados, sem um motivo concreto. Se não fosse a vontade de recordar "o nosso tempo", naquela noite de sábado, no Algarve, eu não teria sintonizado a Rádio Fóia.


Como me soube bem ouvi-los.


É esta ausência de regras rígidas que me anima.

30 de abril de 2010

Derradeira Condição


O desinteresse ecoa no fundo da alma como se fosse uma tempestade. Por vezes mergulha num silêncio profundo, forte e perturbador. Houve um tempo em que a embalava e confortava. A sua presença era sinónimo de "estar".

Hoje causa-lhe nervos, tristeza, insónia e indisciplina-lhe os pensamentos
. Vagueia entre o desejo de o perder e o horror de naufragar sem ele. Oscila entre a idealização e a realidade, entre a felicidade sonhada de outrora, onde as suas qualidades emergiam e brilhavam em aliança, e um presente duradouro onde reina a mentira, a preguiça, o tédio e onde os dias respiram suspiros e semi-sorrisos.

E numa curiosidade mórbita, analisam-se a todo o momento, mesmo quando não querem. Observam a suas almas e não as sentem. O seus olhares contemplam sempre o que não interessa. E aí percebo que o desencontro dos seus olhares não é mais do que o pavor do reconhecimento mútuo de que ambos se amaldiçoam.

19 de abril de 2010

Uma Lua para a Madalena


A casa estava adormecida e silenciosa.
Enquanto lutava contra o sono, pediu-me para ir à casa de banho.
Ergueu os olhos em direcção ao céu, espreitou a noite através da janela e, com os cotovelos apoiados nas pernas e as mãos a lhe emoldurarem o rosto rosado, perguntou:
- Mãe, podemos comprar uma Lua?
O silêncio encheu-se de um riso baixinho... tão baixinho que a casa continuou adormecida.
- Não Madalena... a Lua está muito alta, lá no céu... a mãe não a pode comprar.
- E as estrelas estão quase a chegar?
Passei-lhe a mão pelo cabelo e resistindo à tentação de lhe fazer a sua trança favorita, disse:
- A chegar aonde querida?
- A chegar à Lua! Vês? Usou uma expressão de evidência que não ousei contrariar, ao mesmo tempo que me puxou para baixo para que pudesse confirmar a sua visão.
- Sim filha... elas gostam de dormir agarradinhas à Lua, respondi ajoelhada.
Baloiçava os pés alternadamente e abrindo ainda mais aqueles grandes olhos castanhos com medo que um simples pestanejar a fizesse perder o momento.
Esbocei um sorriso tão doce como só o de uma mãe que espera acolher o filho para o mimar pode ser. Peguei-a ao colo.
Encostou-se a mim num abraço aconchegante e perguntou: - Assim?
Adormeceu e deitei-a na cama.
A meio da noite foi ter comigo e disse:
- Tenho saudades da mãe...



18 de abril de 2010

Super Alice (Chaves)

Cantora, compositora, produtora, actriz e verdadeiramente encantadora em palco (e não só), Alicia Keys deixou-me deslumbrada no concerto que deu no Pavilhão Atlântico em 2008. Ela cantou, dançou, seduziu e brilhou intensamente durante a actuação, mas foi ao piano que me deixou apaixonada pelo seu estilo. Desde então fiquei mais atenta à carreira e tenho acompanhado por alto a evolução dela enquanto pessoa. Aqui fica a entrevista no programa da Oprah para perceberem melhor aquilo a que me refiro.



A Princessa do Soul tem um timbre forte e cru, enraizado no gospel e no soul vintage, mas o seu estilo musical mistura inspirações de vários géneros musicais, que aliados ao piano resultam em deliciosas combinações para os sentidos. Para além disso é uma daquelas pessoas que emana uma luz própria, e cuja presença fervilha de vibrações positivas e boa energia.

Não quero perder a oportunidade de estar presente como um "Element of Freedom" na próxima actuação em Lisboa. A primeira parte do concerto conta com a presença de
Melanie Fiona (autora do potente It Kills Me), a outra jeitosa do R&B, nomeada para a mesma categoria dos Grammy que viria a galardoar a Beyonce com o Put A Ring On It.

O dueto com Miss Beyonce faz de "Put It In a Love Song" qualquer coisa de bombástico, uma mistura explosiva de talento e beleza, ainda mais com um video cujo pano de fundo é só a minha cidade de eleição.

Porém... é a tocar com o coração na ponta dos dedos e o sentimento na voz, que eu a gosto de ouvir. Assim:


Nunca mais chega dia 29 de Abril!

Para quem ainda tinha dúvidas...
http://www.ticketline.pt/
Foi lá que comprei 2 bilhetes.

13 de abril de 2010

Beija-me


Finalmente chegou o dia de hoje - Dia do Beijo. A ocasião perfeita para mais uma vez, contemplar demoradamente "O beijo" de José D'Almeida. Beijar é um gesto de afeição e, sobretudo, uma questão cultural. Há muitos tipos de beijos mas eu só quero falar do mais picante.

Dizem que não se esquece o primeiro beijo. A lembrança que tenho do meu primeiro beijo é absolutamente insípida. Deveria ter sido algo memorável mas não consigo precisar a ocasião, a pessoa, nem o beijo em si. Tal deve ter sido a importância que lhe atribuí! Mas isso não invalida que tenha experimentado vários tipos de beijos ao longo da minha vida. Por isso tenho noção do que gosto e do que não gosto que me façam durante o beijo. Quem não gosta de uma boca hidratada, dentes lavados e hálito fresco? Depois, qualquer que seja o grau de excitação, a suavidade e a sensualidade são princípios que devem estar sempre em mente (em vez da fórmula de desentupir canos ou arear panelas).

Não creio que exista propriamente uma fórmula para um bom beijo. Por isso há até quem considere o acto de beijar uma arte. Porém, num beijo mais íntimo, não há nada mais sensual do que o toque de línguas descontraídas com suavidade (e não jantar na boca do outro), alternando os tipos de beijos, (sem fazer braço de ferro dentro das bocas), misturando carícias com gestos carinhosos, explorando e interpretando lentamente todos os sinais emitidos (sejam eles quais for), para que se possam adaptar.

O Kamasutra reconhece o poder do beijo para expressar sentimentos e emoções, como forma de comunicação numa relação. Descreve 30 tipos de beijos diferentes e as ocasiões em que devem ser usados.



O beijo perfeito é portanto altamente subjectivo, não é frio, nem técnico, nem científico. É o reflexo do que sentimos, aquele que é desejado e dado com verdadeiro sentimento.

O Dia do Beijo é um
excelente pretexto para pedir que nos beijem assim. Por isso... calem a boca e beijem logo.

E se nada disto resultar... experimentem simplesmente amar.


1 de abril de 2010

Anaïs Nin



Anaïs Nin de Romane Serda & Renaud

Para Anaïs Nin lemos aquilo que precisamos. Para ela há autores que nos enriquecem... outros não. A mais pura verdade! Há quase uma força obscura que nos guia para determinado livro numa determinada altura. E há escritores que nos dão um sentimento que nos empurra para a vida.


O amor nunca morre de morte natural.

Ele morre porque nós não sabemos como renovar a sua fonte.
Morre de cegueira e dos erros e das traições.
Morre de doença e das feridas;
morre de exaustão, das devastações, da falta de brilho.

9 de dezembro de 2009

Bate-bate coração

Não teve quaisquer dúvidas que aquela insistência no olhar, aquele brilho no sorriso, a questionavam acerca da veracidade da sua sugestão em passar o resto da tarde a contemplar a vista do quarto. Afinal isso teria certamente muito maior interesse do que o congresso, para o qual se tinham dirigido, primeiro entusiasticamente, arrastando depois outros pensamentos, à medida que a hora se aproximava.

Nesse dia durante o almoço, como em tantos outros dias igualmente iguais, em circunstâncias não muito diferentes, foi assaltado por um desejo ardente de a beijar, esse ímpeto constante que o tempo o ensinara a controlar, agora melhor que sempre. Ou talvez não...

Habituara-se com o tempo àquelas provocações intermitentes, às suas palavras agridoces, aos seus olhares quentes e gestos frios, que ao longo dos anos nunca conseguiu compreender nem explicar, mas que naquele dia não se predispôs a interrogar, como se adivinhasse qualquer coisa de diferente.

Num impulso, ela levantou-se, levou a mala ao ombro e olhou à sua volta enquanto compunha o cabelo. A falsa serenidade que demonstrava o seu olhar saltitante fez-lhe de súbito perder a fome. Surpreendido pelo gesto acendeu um cigarro e depois ficou imóvel. Permaneceu sentado e calado, pousou as mãos sobre os braços da cadeira, num gesto hesitante, até que os olhares se cruzaram.

- Então, vamos!?, disse numa vaga interrogação enquanto se distraía a revoltar o interior da mala, numa ânsia de encontrar nela a coragem que lhe faltava para entrar na porta imediatamente ao lado.

Ela não lhe disse, ele nunca soube, mas naquela tarde solarenga acelerou-se-lhe o coração de tanto lutar pela purgação emocional.

Catarse Emocional www.fourhandsphoto.com

16 de novembro de 2009

Puxado a Vento


Abri a janela e o vento ensopou-me a alma. Ergui os braços e senti a eternidade do universo num abraço morno. Os dias de chuva também têm o seu encanto... É como se a água que cai nos elevasse ao melhor de nós e nos deixasse traçar a nossa própria marca de água no céu.

Quando o amor me inspira ao melhor de mim sinto-me... feliz. E hoje estou assim! Porque consegui arrancar ao sol um arrepio enquanto o vergava ao meu sorriso matinal. Quando tudo o que é maior e mais forte do que eu se une a cada célula do meu corpo, em uníssono, num grito mudo que se espalha por mim adentro e escorre pela rua... sinto-me... violentamente feliz.

Hoje escrevo o meu nome de alegria num horizonte de outono, puxado a vento e a chuva.

Apetecia-me ouvir isto. Alto. Muito alto. Tão alto que o volume do carro, estando no máximo, seria fraco para sentir a batida do ritmo em todos os meus órgãos. Fecho a janela para guardar em mim cada acorde. Nesse momento só me apetece levantar vôo. E por mais que acelere, a velocidade não acompanha a intensidade do compasso a penetrar-me a pele.

9 de outubro de 2009

Zela, por mim



Houve um tempo em que me acordavas de noite, com medo do escuro, para que eu fosse à tua frente e esperasse por ti na casa de banho. E eu lá ía, orgulhosamente à frente, com o urso preto elevado às batidas do meu coração, como se fosse muito valente...

Bebíamos Pisang Ambon porque nos sabia a xarope e a cor era linda, ríamos até à exaustão ao escorregar com o rabo sob as almofadas nas escadas de mármore enceradas e fingíamos estar a dormir quando a mãe aparecia de repente. Coleccionávamos borrachas com cheirinhos deliciosos, assaltámos a arca dos gelados, e fomos cúmplices na partilha de segredos enterrados. Dormíamos juntas, tomávamos banho em conjunto e tínhamos um sonho em comum... ou vários. Falávamos de tudo e continuamos a falar.

Mordi-te um dedo, quase te furava um tímpano e dei-te um nome que ninguém sabe pronunciar como deve ser. Se calhar, tens sido melhor para mim do que eu para ti. Tens estado sempre presente nos momentos mais marcantes da minha vida. Talvez eu não cuide tão bem de ti.

Desde que vi o Rachel Getting Married que sinto o coração a transbordar de vontade de partilhar contigo o mesmo sentimento de "amor incondicional" entre irmãs que o filme enaltece. Sinto vontade de te dizer: És minha irmã e amo-te. Por isso tenho guardado esta música, como se fosse preciso um momento especial para dizer que te adoro.

E se eu precisar do teu enorme urso amarelo, para que não tenha medo de avançar, no escuro... Podes ir à minha frente?



21 de julho de 2009

Sentidos


Todos os sentidos são importantes. A sensação de não conseguir eleger o mais importante é tão desconcertante quanto a indecisão com que me deparo, se pensar em abdicar de um deles. Olfacto, tacto, audição, visão e paladar estão intimamente relacionados entre si, e fazem mais sentido assim, como um todo indissociável.

O olfato é um dos sentidos mais interessante do meu corpo. Graças a ele sou capaz de fazer uma espécie de arquivo associativo. Essa espécie de registo é capaz de me levar às mais variadas lembranças. Aquele bálsamo da sombra das figueiras ao chegar à Prainha, o cheirinho único dos meus filhos à nascença, a fragância do ar e da terra nas primeiras chuvas, o odor que as linhas férreas exalam após a passagem do combóio, o aroma de uma comida ou algum perfume que ficou gravado na minha mente, são verdadeiras tatuagens no meu espírito. Tratam-se de verdadeiras marcas e, sempre que as sinto, fazem-me mergulhar num mar de lembranças, trazendo recordações de pessoas ou de momentos, sejam eles bons ou maus.

Depois há o nosso próprio perfume, os odores corporais de cada um, um cheiro que só a nós pertence, distinto e único, que não se repete em mais ninguém, e que vai muito além de uma sociedade "desodorizada". Recorremos, no entanto, a produtos de higiene que transformem os nossos (maus) cheiros em sensações agradáveis. O ritual matinal de me perfumar após o banho, na medida proporção do meu gosto - nem em falta, nem em demasia - assume uma magia inexplicável.

Traduzir para imagens uma série de sensações olfactivas (e não só), e conseguir manter toda a sensualidade resultante desse segredo lendário -perfume- num pequeno filme publicitário, só poderia ser feito por alguém que conhece bem a sétima arte.




Coração Feliz

Acredito ter encontrado as essências que se colam perfeitamente à minha pele, que combinam com a minha personalidade, elevando o meu aroma natural. Celebro essa química como se de uma verdadeira cerimónia se tratasse. É a liturgia do amor-próprio olfactivo, ou não fosse
o Happy Heart o meu perfume perfeito.
Mas é muito uma questão de pele. É aqui que entra o tacto.

Muitas vezes enaltecido por uma l'
eau de parfum, um ser perfumado toca, apesar de tudo, todas as coisas com os seus dedos de energia. A luz que emanam gera reacções primitivas e não racionais de atracção ou repulsa. É uma questão de pele. Ao seu lado, a gente percebe que a sensualidade é um perfume que vem de dentro e que a atracção que nos move não passa só pelo corpo, corre nas veias.

Acredito que há almas perfumadas. O meu filho é a prova disso. Cheira a sol de manhã, a flores quando ri e a céu estrelado quando, à noite, se vem deitar comigo. Ao seu lado, saboreio a delícia do toque suave que sopra no meu coração a sua presença. Os sentimentos que aquelas mãozinhas tranportam, no tactear da cama em busca do meu corpo, também têm cheiro. Esse toque encerra em si um silêncio, apenas quebrado quando encontra o meu peito.

Ama-se pelo cheiro, pelo toque da pele, pelo tom de voz, pelo olhar inquietante, pelo gosto do beijo, pela paz que o outro nos dá, ou pelo tormento que nos provoca. Amo justamente pelo que o amor tem de indefinível.

10 de julho de 2009

sinto, logo... Vivo!

Acordei com medo. E se eu tiver chegado a um ponto em que perdi o sentido da vida? Assustou-me ainda mais pensar que, ainda que um propósito final existisse, ou uma acérrima convicção religiosa o justificasse, isso não me satisfaria plenamente.

O esvaziar de objectivos claros e concretos, faz-me sentir meio perdida. Estagnada face aos caminhos, desmotivada quanto a rumos futuros. Cresci estabelecendo metas, contornando obstáculos e imprevistos que, quero acreditar, pudessem levar-me à felicidade. E quando dei conta, sentia uma espécie de vazio, de acomodação ao que conseguira alcançar, de cansaço, de ingratidão. Como se tudo dependesse do meu brilhante desempenho. Será nisto que a psicoterapia -de que a Dra. Margarida falava- poderia fazer algo por mim? O que quereria ela dizer com "há aí muita pedra para partir"?...

Naquele dia, não percebi o alcance daquelas duras palavras. Dentro de mim, sentia porém a vida a pulsar noutro tempo, noutro lugar. Fiquei com a sensação de caminhar sem bússola. Era a Sissi que queria ser médica, artista, pintora, cantora... Visualizei tudo aquilo que queria ter sido e não fui. Apeteceu-me permanecer em
off durante tempo indeterminado. Precisei de me reprogramar. Há coisas que preciso de desculpar em mim e aceitar ser desculpada.

Dei por mim a pensar: o sentido da vida é redescobrir o prazer de viver. Nunca porei termo ao eterno desassossego da alma. Se é isso que me faz feliz. Mudar de vida porquê? E no entanto, adormeço com tanto medo.

17 de junho de 2009

À pesca de um Santo

A lembrança mais viva que guarda dos festejos dos Santos Populares no Algarve, é o tom de voz com que a mãe criticava o facto de sair de casa, de banho tomado, toda perfumada, com roupa lavada e a farpela criteriosamente escolhida para ir "saltar à fogueira". Naquele tempo, não tinham o mesmo entendimento acerca daquele acontecimento.

Para ela, a importância daquele evento só tinha comparação com a actuação do Rancho Foclórico do Calvário na Bemposta, e fora superada, uma única vez, pelo desempenho de um circo familiar cuja actuação a deixara a sonhar durante largos meses... No entanto, não fazia ideia do que tratava aquela época festiva... teria uns 7 anos, e não quis saber, não questionou nem tentou perceber o significado da tradição popular. O Algarve nem Santo tinha! Em 2010 quer ir à Avenida da Liberdade ver o desfile das marchas de Lisboa, e recuperar tudo o que nos anos já passados, por uma razão qualquer, perdeu.

Mas recorda a sensação da onda de calor crescente, à medida que se aproximava do momento do salto, o cheiro do alecrim queimado, e ainda retém rostos desfocados mas sorridentes, iluminados em redor do fogo, a cantar. Depois voltava a casa, silenciando os grilos com a sua passagem. Tinha a pele suada, os pés sujos de terra e marcados pelas tiras plásticas das Colibri (que ainda assim emanavam um delicioso cheirinho a baunilha). O odor a fumo entranhado no cabelo invadia-lhe a almofada e, com o refrão da música "S. João, S. João, S. João..." que ecoava em si, adormecia.





Outra Gaivota

Reparo agora que nunca procurei entender a dimensão dessas festas. Já em Lisboa, nunca as celebrei, certamente mais rendida ao snobismo do que propriamente por coincidir com a época de exames universitários mais exigente.

Hoje já não cedo à tentação do preconceito de "não gostar de certas coisas". Sardinhas, caracóis, fado, arraiais e bailaricos? Sempre gostei!

Já com a música portuguesa, as coisas não são tão lineares... Gosto de ouvir de tudo um pouco, mas reconheço que estamos numa fase muito fértil, surgem bandas inovadoras, velhos êxitos são revestidos de uma roupagem diferente, muitas vezes surpreendente. Nem de propósito, hoje, quando ouvi a nova versão da "Gaivota" da Amália, senti-me renascer.

No próximo ano, deixarei de me sentir nostálgica face ao que não vivi. Como qualquer alfacinha, partirei numa algazarra colorida, em busca do meu santo. Até lá, vou ouvindo o pipilar desta gaivota.

27 de abril de 2009

À espera


O corpo não me tem pedido para escrever. À noite, quando o silêncio finalmente se instala, deixo-me envolver pelo cansaço, fecho os olhos e adormeço. E aí fico, dentro do frio que me envolve por dentro, encolhida e frágil à espera que chegue o momento. Chegará o instante, pensava eu...

Mas o silêncio de esperar inquieta-me a alma e, às vezes, quando acordava ou o sono se diluía em exercícios mentais mais ou menos conscientes, sentava-me à secretária para acertar contas com o tempo. Não me lembro ao certo dos pensamentos que tinha, mas a verdade é que, assim que acordava, pensava em ti. Depois, aí ficava, com o olhar fixo em nada, como se estivesse fixo num horizonte. Inerte e indiferente à passagem dos segundos, dos minutos, das horas.

Naquelas noites o corpo pedia silêncio e que apenas deixasse o tempo passar. Eu cedi. Fiz-lhe a vontade. E não me vieste visitar. Hoje tenho um corpo que não se cala, ainda que eu o silencie. Trago uma canção no corpo, devia ser pra ti.

20 de abril de 2009

Amor numa gaiola

Há pássaros que querem levantar voo, e não conseguem. Não estão presos, o céu está livre, nada os impede de voar. Mas ficam parados, como se não tivessem asas, ou a terra os hipnotizasse. Não precisam de gaiola; podemos abrir portas e janelas: o seu lugar é onde estão, e hão-de ficar.

Mas os dedos que tocam o seu corpo frágil sentem uma hesitação; e os olhos que os fixam adivinham o desejo de se libertarem. Porém, estão imóveis. São os pássaros que não conhecem Outono nem Inverno, os que não sabem para que lado fica o horizonte, os que nunca roçaram o dorso das nuvens.

Tenho estes pássaros na cabeça; e mesmo quando lhes abro o campo do poema, não saem de dentro de mim, ensinando-me o seu canto. Hoje, como naquele tempo, continuo a não entender. E mais prisioneira me torno. Como pode o amor trair o amor? Engaiolei-me nessas grades invisíveis, numa espécie de sintonia de equilíbrio, desiquilibrado.

Ser livre? Em sonhos, talvez...

17 de abril de 2009

Physalis


"Amour en cage" é um dos nomes pelo qual é conhecido o Physalis, um fruto exótico, originário da América do Sul. O fruto encontra-se protegido por uma corola que depois de seca apresenta um aspecto rendilhado, como se fosse uma gaiola no centro da qual aparece a pequena baga alaranjada.

É um fruto pequeno, delicado e redondo, tem a textura de um tomate e um sabor levemente adocicado, levemente ácido. Aprendi a gostar do seu sabor ainda não o tinha provado... foi num restaurante elegante qualquer, onde o serviram coberto de chocolate... ou será que sonhei? Acho que foi amor à primeira vista.

No Brasil o Physalis é utilizado como tira-gosto em degustações de vinho. Mas o alto teor de vitaminas A, C ferro e fósforo conferem-lhe propriedades medicinais importantes como purificar o sangue e fortalecer o sistema imunológico. Chamam-lhe camapum, joá-de-capote, saco-de-bode, bucho-de-rã, bate-testa e mata-fome. Mas mesmo assim, é impossível resistir-lhe.

Eu chamar-lhe-ía fruto da paixão.

O Fartura


Naquela altura íamos a pé com a avó, das Sobreiras à Bemposta, para lhe ir levar o almoço: cozido de grão, "jantarinho" de feijão com arroz, carapaus alimados, peixe frito com molho de tomate e pimentos, sempre acompanhados com toscas fatias de pão, cortadas com um canivete do qual nunca se separava. A ementa era pobre, pouco variada, e nunca contemplava os seus pratos favoritos por serem necessariamente feitos "na hora": arjamolho, papas de milho (do caldo do peixe ou da caldeirada) e açorda da água do bacalhau. Tenho saudades de saborear estes pratos, com aquele gosto que só ele lhes sabia dar.

Tirava a boina e sacava o lenço para limpar as gotas de suor da cara, antes de nos beijar. Depois sentava-se com os outros homens, fazia uma careta ao farnel, comia, bebia vinho e brindava assim:

"Eu bebo este copinho,
E digo com muita alegria,
Viva a real sociedade,
E os que estão em sua companhia!"

"Eu bebo este copo de vinho,
E digo com satisfação,
Viva o António Nascimento,
E todos os que aqui estão!"



Recordo com ternura as marcas do tempo, na pele exposta ao vento do Inverno e à torreira do sol no Verão. Lembro-me do seu caminhar, num gesto decidido e apertado atrás da máquina de cortar a relva, e retenho fresco aquele cheiro "a verde", da relva acabadinha de cortar. Ainda sinto o odor adocicado das esteiras, (naquelas noites de um calor sem igual), orgulhosamente feitas à mão, por umas mãos secas e ásperas, símbolo de anos de trabalho árduo.

Nos desacatos com a avó, soltava para o ar uns "Tal tá a porra, heim!?" e outros "Ah, fado dum cabrão!" enquanto descascávamos favas, partíamos amêndoas, britávamos azeitonas , ou depenávamos passarinhos. Mas tinha um coração enorme e, apesar de não ser do género de andar sempre aos beijinhos, tinha no olhar um brilho indescritível quando nos presenteava. Os presentes que recordo com maior carinho são uns patins, (devia eu ter uns três anos) e o órgão que orgulhosamente me ouvia tocar no "Faducho".

Depois veio a fase dos problemas de saúde. A sensação impotente de o vermos entre os hospitais de S. José, Santa Marta, Santa Cruz e o do Barlavento Algarvio, remetem para as recordações menos boas, mas levam-me a adorá-lo ainda mais, pelo homem que era.
- Vai com cautela, filha. Dizia, (quando conseguia falar), ao mesmo tempo que se emocionava com a minha partida.

Há três anos atrás, no Domingo de Páscoa, não chegámos a ver o sorriso comovido e contente que esboçava, quando eu e a minha irmã o "obrigávamos a pagar contratos". À semelhança dos anos anteriores, recebemos um pacote de amêndoas tipo francês, adquiridos com muito amor na mercearia do Sr. João. Nesse dia, o relógio do avô Fartura esperou por nós para parar. Este ano já não recebemos as "páscoas" como antes.


15 de abril de 2009

Palavras para quê!

Não ando a dormir bem. Às vezes tenho a sensação que não devia publicar emoções que vivem em surdina. Outras vezes penso que deveria pintar numa tela os sentimentos agridoces que habitam o meu democrático coração. Isto de querer ser exactamente aquilo que a gente é há de nos levar a algum lado, digo eu...

A mim leva-me sempre às minhas origens, aos encantos dos recantos da terra onde nasci, e que avisto da "ponte nova" com uma vaidade crescente cada vez que lá vou.

Mas depois, cada vez que regresso a Lisboa me sinto mais entregue à grande cidade. Como se também aqui tivesse criado raízes, já que aqui tenho vivido.

E tenho medo de já não saber onde pertenço. Fico meio perdida no meio dos meus sentimentos. Em silêncio.

Os olhos falam. Muitas vezes gritam. Às vezes é necessário não olhar para não revelar segredos. Outras quero mais e mais porque a isso me obriga o ritmo do meu próprio pulso. Há sempre uma mensagem que só ouve quem deseja ouvir. E no entanto, sabe-me a pouco... Hoje preciso mesmo de desabafar. E não há palavras que cheguem. Vá-se lá me entender! Não é fácil.

Vida, leva eu...



Gosto disto de se puder usar tudo. Não tenho um estilo definido. Sou assim com tudo. Gosto de escolher o que me apetece, o que melhor combina com o meu estado de espírito. Sabe-me a liberdade. De vez em quando tenho vontade de não ceder à tentação de fazer o que realmente desejo num determinado momento.

Aí, "deixo a vida mi levárr".

5 de abril de 2009

In Love with...

Foi o que aconteceu quando me apresentaram a Zilian e me puseram perante um dilema de 400 m2 de sapatos de salto alto, rasos, com cunha, abertos, fechados, bicudos, redondos, sandálias, botas, chinelos e ténis. Basta espreitar a montra para vozinhas demoníacas começarem a ecoar dentro do cérebro e a empurrar-nos lá para dentro. A loja é enorme, tem um conceito original e uma relações públicas carioca que, além de simpática, demonstrou um profissionalismo e sentido comercial fora de série. Um verdadeiro cocktail que apela ao consumo não só pelo aparente equilíbrio entre qualidade, design e preço mas acima de tudo pela atitude irreverente, positiva, alegre e apaixonada. Não pude resistir a sair de lá mais leve!

"Os portugueses têm muito que aprender com os brasileiros" - disse eu à Fernanda, deixando transparecer o carinho que tenho por aquele povo que está "de bem com a vida", apesar de tudo. Se calhar o inverso também é verdade, mas não posso deixar de sentir uma certa inveja por não sermos capazes de nos exprimirmos da mesma maneira que eles, sem as expressões que só com sotaque brasileiro fazem sentido.

Acho que aprendi realmente a viver com umas caipirinhas que bebi. Deram-me uma alma brasileira da qual já não abdico. Antes só "viajava na maionese". Agora sabe-me bem ouvir o fado assim, em português do Brasil, e cantá-lo com um sorriso nos lábios ainda que os olhos teimem em fechar.

3 de abril de 2009

Sapatos


Esboço sempre um sorriso quando penso no "Livro do Bebé" imaculadamente guardado em casa da minha mãe, junto a uma série de albuns fotográficos, autênticas relíquias nos dias que correm. Ajudam-me a avivar algumas lembranças da minha infância, verdadeiros tesouros, quando comparados com o que vou anotando em livros similares.

Ali pode ler-se por exemplo, que os meus brinquedos favoritos ainda antes do primeiro ano de vida eram: sapatos e a caixa de ferramentas. Não sei explicar a origem de tal preferência, mas se é verdade que com o passar dos anos as "ferramentas" foram dando lugar a acessórios da mais variada índole (culinários, de limpeza, de moda, beleza, médicos, terapêuticos) já o mesmo não se pode dizer relativamente aos sapatos. Essa paixão permanece e está para durar.



Não me considero uma fashion victim, uma esbanjadora ou uma consumista nata, mas a verdade é que sou capaz de resistir a tudo em termos de moda excepto a um par de sapatos que me encha as medidas. Sou uma observadora particularmente atenta ao tipo de calçado que as pessoas usam, e acredito que ele revela muito do carácter e personalidade de cada um.

No topo das minhas preferências estão: botas e sandálias. Elas assumem o meu elo de ligação à esfera terrestre, o principal ponto de contacto com o solo e, nunca é demais relembrar que apesar de tudo, bem ou mal, também os meus pés assentam no chão! De salto alto, bem alto de preferência, a cabeça fica ainda mais perto das nuvens, e assumo aqueles centímetros que a natureza teimou não me dar, como se da minha própria medida se tratasse. Não que seja baixa para a média, mas confesso, queria tanto ter crescido só mais 5 cm!

30 de março de 2009

E o que é que para mim é fácil?

Há muitos dias que me andava a apetecer aquela pizza... Hoje resolvemos fugir do "Baratinhas" e afins. Apetecia-me caprichar de frente para um mar imenso tão agitado e irrequieto por fora quanto eu por dentro. Decidimos então partir à descoberta da tão requisitada sangria cor-de-rosa e que me soube maravilhosamente. Fresca, revelou-se uma agradável surpresa, na perfeita proporção do aroma sedutor da fruta açucarada com um travo a vinho rosé pouco estruturado. Cada trago transportava-me para uma dimensão de "apetece-me ficar já aqui..." combinações perfeitas a que cada vez mais dificilmente consigo resistir.

No regresso pela marginal dei comigo a pensar que a inspiração surge de forma natural, atendendo às coisas simples do quotidiano. E daquele silêncio apenas retive uma ideia. Há coisas que vão mudando com o passar do tempo, com a idade, com a vida. Outras permanecem.

Não consigo deixar de ficar atenta a quem na mesa rejeita a opção de beber o café com açucar. Institivamente faço a recolha dos pacotinhos inutilizados para dentro do meu saco. Assim não tenho de ouvir o meu pai a reclamar do tamanho do açucareiro.

Ah!... e a minha cor preferida continua a ser o rosa. Não um rosa qualquer, mas "aquele rosa". Vêem o que para mim é fácil?